Neste poema, um professor medieval dá a seu discípulo certos conselhos sobre a rotina que deve manter para uma sã vida intelectual. Os preceitos foram pensados para um período de recesso, mas podem bem ser aplicados por aqueles que pensam numa vida de estudos como autodidata.
Leitura, meditação, registro das coisas meditadas: eis o esquema subjacente ao programa de estudos proposto pelo professor e que tantos frutos trouxe para a vida intelectual e para as letras, como o comprova o grande número de mentes excepcionais formadas por este modelo.
É interessante notar que o mestre faz questão de estabelecer um programa de estudos equilibrado, conciliando-o com outras tarefas e com o lazer, e faz questão de manter certo contato com o aluno mesmo neste recesso, supervisionando suas atividades ainda que a distância.
[Notem as rimas internas de cada verso: preceptorum...meorum; nugis...frugis; metas...etas; um capricho típico do latim medieval. O poema é escrito em hexâmetros leoninos.]
Si preceptorum superest tibi cura meorum,
Parce, puer, nugis, dum rus colo tempore frugis.
Prefigam metas, quales tua postulat etas;
Quas si transgrederis, male de monitore mereris.
Contempto strato summo te mane levato,
Facque legendo moram quartam dumtaxat ad horam.
Quinta sume cibum, vinum bibe, sed moderatum,
Et pransus breviter dormi vel lude parumper.
Postquam dormieris, sit mos tuus, ut mediteris.
Quae meditatus eris, tabulis dare ne pigriteris;
Quae dederis cerae, spero quandoque videre.
Miseris huc quaedam, – facies, ut cetera credam.
Post haec i lectum, cum legeris, ito comestum.
Post sumptas escas, si iam monet hora, quiescas.
Si tempus superest, post cenam ludere prodest.
Sub tali meta constet tibi tota dieta. (Marbod von Rennes)
Tradução
Se a ti resta algum zelo pelos meus preceitos,
Poupa-te, ó garoto, das frivolidades, enquanto cultivo o campo no tempo da colheita.
Prefixarei metas, daquelas que exige a tua idade;
Se as transgredires, ter-te-ás comportado mal aos olhos do preceptor.
Desprezado o leito, levantar-te-ás de manhã bem cedo,
Põe-te a ler ao menos até às dez horas da manhã.
Às onze horas toma o alimento, bebe o vinho, mas moderadamente.
E, tendo almoçado, dorme ou distraia-te por tempo breve.
Depois de dormir, seja-te um costume o meditar.
As coisas que tiveres meditado, não hesites em mandá-las às tábuas*.
As coisas que tiveres dado à cera, espero vê-las em um algum momento.
Enviarás para cá algumas delas; farás isso, para que eu acredite nas demais.
Depois dessas coisas, vai ler; quando tiveres lido, vai comer.
Depois do alimento consumido, se já o adverte a hora, descansa.
Se sobra tempo, é bom distrair-se após o jantar.
Que sob esta meta te esteja firmemente estabelecido todo o modo de agir.
* Nesta época os alunos escreviam em tabuinhas de madeira cobertas de cera.